Recém entrego nossos relatórios (due diligence socioambiental, mapeamento e risco dos stakeholders, com intuito de revisar o PAE), trabalho nada fácil, equipe cansada e recebo um convite de pronto para dar uma palestra para os diretores de um agronegócio, a princípio ia ser sobre cultura de segurança e comportamento seguro
Mas como tinha perguntado antes se já tinham algum trabalho quanto o nível de maturidade ou até mesmo se tinham perfil sócio econômico dos tantos mil colaboradores, como disseram,” não “, repliquei não percam seu tempo, por que falar de cultura se vocês não sabem onde estão e para onde gostariam de ir?
Seria uma perda de investimento e com a experiência que tenho, não seria de muita valia, mas se quisessem tem muita gente que vende palestra ou treinamento destes 2 temas muito melhor que eu, eu sou prático, vivi e respirei cultura, não floreio, mas gosto de ter uma ideia para que tipo de público estou falando, tem que deixar uma marca, toda palestra tem que ter um por que!
Como já estava entregando o relatório na central, resolvi falar sobre o risco socioambiental, que infelizmente muitos não tem a menor ideias dos seus.
E como exemplo, iniciei nossa conversa para o conselho e diretoria;
Alguns uns anos, um gigante mundial de produção de cereais resolveu dar de brinde um brinquedinho dentro de seus pacotes, foi um sucesso inclusive foi lançado junto com um filme.
Só que esta empresa foi pega de surpresa por uma enxurrada de críticas e ações populares por este brinde, pois continha uma bateira que possuía mercúrio (altamente toxico).
O estrago estava feito, como em qualquer desses casos, a marca quando lembrada estava associado ao caso.
Fora ter que ressarcir os que tinham comprado o pacote com o brinde, pagou pesadas multas e teve sua exposição à mídia manchada.
Na mesma época, uma cadeia de restaurantes respirou aliviada perante o acontecido, pois já tinha identificado o mesmo problema do mercúrio antes de lançar seus brindes.
O departamento de sustentabilidade realizando uma análise crítica de processo onde buscavam elementos que podiam causar impactar socioambiental já havia condenado.
Quando você possui uma grande marca com valor intangível, o departamento de sustentabilidade tem a responsabilidade de reduzir os possíveis impactos sócios ambientais que vão desde embalagem, fornecedores e até o lixo, através de uma análise de risco socioambiental bem criteriosa do processo.
É uma questão de sobrevivência neste mercado competitivo e com uma sociedade preocupada com os impactos socioambientais.
Há pouco tempo tivemos o caso de uma marca famosa de roupa acusada de trabalho escravo e uma marca de carro que se dizia reduzir as emissões de carbono em seus carros.
Não preciso esticar quanto às consequências desta denúncia uma vez vindo a público.
O número de produtos e serviços sendo expostos em supermercados e na mídia que se dizem ecológicos ou sustentáveis tem aumentado consideravelmente.
É cada vez mais fácil encontrar produtos no mercado comprometidos com o meio ambiente, bem como empresas que dizem serem comprometida com o desenvolvimento sustentável.
Muitos são evasivos e só dizem que são, mas não mostram por que, onde ou como.
Muitas empresas usam a chamada “maquiagem verde” sem explicar o que realmente estão fazendo a favor do meio ambiente.
Uma publicidade pode ser totalmente correta e mesmo assim ser enganosa, como por exemplo, quando omite algum dado essencial.
O que fora anunciado é verdadeiro, mas por faltar o dado essencial, torna-se enganosa por omissão. Normalmente, é essa a intenção da “Maquiagem Verde” ou Green washing.
Com a consciência aumentando a cada dia pela sociedade sobre o que é realmente ser sustentável, tem aparecido situações embaraçosas para muitas marcas e até mesmo profissionais, quando questionado sobre suas empresas.
Assistindo o programa Cidades e Soluções faz tempo, fiquei realmente impressionado como existem vários produtos no Brasil sendo acusados de maquiagem verde.
O repórter e o representante da fiscalizadora explicavam, e muito bem por sinal, por que essas marcas seriam notificadas por enganar o consumidor na questão de suas marcas dizerem em suas embalagens ser sustentáveis e ecologicamente corretas.
Também achei justo, pois deram espaço as empresas justificarem (muitas não se saíram bem e louvável que algumas disseram que iam corrigir).
Situação desagradável e vexatória.
Em época de lava jato, desastre de Mariana/Brumadinho /Barcarena e outros, imaginem como deve ser desconfortável para essas empresas a exposição de sua marca.
Ser exposta em rede nacional por um órgão fiscalizador manifestando que sua rotulagem ambiental é considerada uma propaganda enganosa com Maquiagem Verde e dando o direito de se defender e estas não conseguem, sem dúvida é desconfortável e uma vez com a imagem arranhada, perde se credibilidade e valor de mercado se está presente no índice de sustentabilidade da bolsa de valores.
Que os departamentos de marketing e comunicação estejam em alerta quanto a informações divulgadas de suas marcas e que busquem estar alinhados com o departamento de sustentabilidade e QSMS-RS, questionando a estes os resultados de seus trabalhos.
Já mencionei em outros textos, que a sociedade não compra mais a ideia de ver cartazes sobre sustentabilidade, ambientes seguros para seus colaboradores, com funcionários sorridentes ou plantando árvores.
Em uma situação, onde participei como palestrante ao final do evento fomos para mesa de debates. Quando foi aberto a perguntas, iniciou se um questionamento com um dos membros da mesa, vindo de um dos participantes.
Este questionava ao participante da mesa sobre a instituição financeira em que ele representava que se dizia em sua propaganda ser sustentável e preocupada com o meio ambiente.
O colega da instituição ficou em uma situação complicada, com as perguntas realizadas como: Onde uma instituição financeira poderia ser sustentável? Quais as ações concretas? Quais são os Kpis de Sustentabilidade da organização? Reduziram em quantos % o consumo de água das agências? Pegada de carbono?
E por aí foi, não vou me alongar no martírio que foi do colega em tentar se explicar, até por que sobrou para outro da mesa que representava uma empresa que tinha fama de ser sustentável, mas recém tinha sido autuada por despejos químicos afetando uma comunidade, imaginem como terminou o debate.
Gestores de Sustentabilidade e QSMS-RS tem que estar atento a suas ações, análises de seus resultados e estarem bem alinhados com seus respectivos departamentos de marketing e comunicação.
Dizer em seu produto ou em propaganda de sua empresa que é sustentável, eco friend, possui selo verde, acidente zero e sem acidente ambiental não é o suficiente, se faz necessário mostrar. SER E PARACER!!!!
Se não provarem com dados e ações concretas. Podem passar vergonha perante o público, fora as consequências econômicas.
E haja propaganda para reverter à situação.
Se é que conseguem.
Estamos juntos!