Era uma segunda de manhã, em reunião com a equipe de Sustentabilidade (como reutilizar a água nas comunidades reassentadas e trata-las), ao término desta, quando liguei meu celular, este não parava de tocar com todos os tipos de mensagem freneticamente chegando e imaginei de tudo (acidente fatal e etc.), mas antes que pudesse ler as mensagens.
Entra em nossa sala o gerente de produção gritando que íamos ser atacados e mortos pelos Tuaregues!
Pronto uma confusão das boas e mais um dia animado para o QSMS-RS & Sustentabilidade, de muito pavor e para variar o pessoal do nosso departamento tinha que resolver.
Era uma obra interessante de 1200 km de extensão começava na selva e entrava pelo deserto (linha de transmissão, estradas de acesso e infraestrutura para as comunidades reassentadas, cerca de 700 famílias) com 4000 colaboradores vindo da Ásia.
Não falavam inglês e nem francês (imaginem nossos TDDS, nossos cartazes de QSMS-RS pelo trecho) e como complicador.
A situação: Os orientais gostam de cachorro para comer e comeram uns 30 de uma destas vilas Tuaregues por onde passava o nosso trecho no meio do deserto do Ténéré.
Uma frente de trabalho com mais de 800 homens parada é um tamanho de um baque para qualquer obra.
Nessas horas, nós gestores de QSMS-RS somos chamados para tudo, já ouvi até reclamação de que a quentinha não chegou e estava fria e era para nós resolvermos!
O diretor do projeto imediatamente me chama pelo rádio, e escuto a famosa frase “VAI LÁ, E RESOLVE!”
Quando chegamos ao local do bloqueio, se aproximaram os Tuaregues em seus trajes típicos usando pano azul claro que caracterizam suas vestes tradicionais.
Neste dia estavam zangados e com razão, pois foi totalmente um desrespeito o que nosso pessoal fez com eles, e com muita conversa e pedidos de desculpas a situação foi resolvida depois de um longo tempo.
E todo trabalho realizado por nossa equipe de relações comunitárias foi jogado por água abaixo.
Pois tivemos que recomeçar do zero com todas as 39 comunidades no percurso do projeto, pois a notícia se espalhou por todas as vilas, chegando até aos que estavam no meio da selva (sem internet) imaginem.
Consequência? O projeto ficou fora do orçamento, nossos gastos antes previstos para o projeto de Sustentabilidade e QSMS-RS subiram e o resultado da obra ficou abaixo do esperado.
Lição aprendida?
Claro, mas…….. Como poderíamos prever e incluir em nossa matriz de risco socioambiental a questão do cachorro como iguaria?
Faltou experiência de minha parte sim, em prever.
Reconheço meu fracasso, e mais um para minhas anotações de lições aprendidas.
O Fracasso é solitário, se está tudo bem, você é o cara, mas se um acidente acontece, voce passa ser o “leproso” da área.
Em uma análise de risco socioambiental temos que prever todos os possíveis problemas com as comunidades não só pela questão especifica dos cachorros no ocorrido, mas os possíveis impactos socioambientais que o projeto venha causar e um plano de ação realístico e factível para situações de emergência e crise.
Fundamental escutar a todos, principalmente os stakeholders (falha minha, naquela época não o fiz)
Ciências humanas são humanas, não são 1+ 1=2 não é engenharia e muita habilidade se faz necessária para o sucesso de um projeto por parte da equipe de Sustentabilidade e QSMS-RS.
Experiência com lições aprendidas valem ouro e insisto!
Uma boa análise de risco sócio ambiental e sua gestão, é fundamental que participem profissionais qualificados e com experiência e vivência real de campo.
A turma do ar condicionado que me perdoe.
Assistimos neste momento, grandes fundos e empresas estrangeiras chegando ao Brasil através de aquisições, fusões e se instalando, isso é ótimo.
Que estejam cientes dos seus estudos de viabilidade dos projetos onde contemplem uma gestão forte e dedicada de QSMS-RS e Sustentabilidade na matriz de análise de risco socioambiental.
Aqui no Brasil, não é a selva africana, nem o deserto do Saara,
Mas muitas comunidades não possuem água, esgoto e nem eletricidade regulares, mas todas têm celulares, grande parte acessa a internet e nossa legislação de crimes ambientais é rigorosa, toda atenção é pouco para não inviabilizar o projeto.
Risco dos impactos socioambientais? Existem aqueles que só vão pensar nisso quando ele se apresentar.
Esse parece ser o padrão de pensamento de muitas empresas, que subestimam os aspectos de gestão de risco, que devem ser abordados com antecedência, sempre!
Depois, não adianta, realizar uma ação de Sustentabiliade aqui, ali o departamento de comunicação tentando explicar …., ou seja, o de sempre de pois de um grande acidente socioambiental
Cultura de organizacional de risco de impactos socioambientais, já!
Estamos juntos !